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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

CAPÍTULO 4 – VIDAS CEIFADAS


Grandes bolas de fogo caiam do céu em direção a Castória. Grandes e pequenas. Esmagavam... Despedaçavam... Destruíam... Matavam...
Gritos eram ouvidos mesmo à distância. Correria das pessoas lutando por suas vidas.



Gabby apenas assistia tudo à distância. Nada poderia fazer para impedir aquela situação.
Castória estava condenada.

Pobre Gabrielle... Ser a única testemunha do fim de todo um vilarejo. Sentir todo aquele peso... Sozinha.
Foram tantas vidas...

Passado certo tempo, o fogo dos céus cessou. Assim como os gritos das pessoas. Assim como a correria. Nada mais ali existia. Só o que restava era o silêncio esmagador da madeira das casas estalando.



Entrando na cidade Gabby olhava estarrecida. Ela mal podia acreditar no que ela via.
Toda a vida ali foi ceifada. Absolutamente nada sobreviveu.
Havia corpos espalhados pelo chão. Eles ardiam em grandes chamas que se elevavam aos céus. E Gabby pôde sentir a dor daquelas pessoas. Parecia que sua própria queimava.

Com lágrimas nos escorrendo dos olhos, seus joelhos se dobraram e caiu ao chão. Sentia-se culpada...



Culpava-se por achar que poderia ter feito mais. Se talvez tivesse sido mais convincente com o ancião da cidade. Se tivesse gritado mais alto no centro do vilarejo, talvez conseguisse salvar algumas pessoas. Talvez o dono da estalagem, talvez o cocheiro, talvez a pobre senhora cega que pouco antes havia lhe entregue terrível premonição.

Disse a si mesma que Xena não permitiria que nada disso acontecesse. Se Xena estivesse viva não teria desistido tão fácil e teria salvo o maior número de pessoas, senão a cidade toda.



Viu sua autoconfiança ruir. Ir embora como a areia escorre por entre os dedos.
Não se sentia mais digna do legado de Xena. O Chakram pendurado em sua cintura parecia pesar 1 tonelada.
Foi quando do meio da cidade, Gabby viu uma pessoa caminhando. O que automaticamente lhe tirou do torpor em que se encontrava.

Em seguida pôde ouvir uma risada alta e gutural. Quase prazerosa.
Levantou-se e resolveu averiguar a situação. Empunhou seus sai e foi caminhando cautelosamente em direção ao som que ouvira.



Ao chegar mais perto do que havia sido o centro do vilarejo, olhou e olhou e nada viu. Não havia ninguém a vista.

Gabrielle – Há alguém aqui? – Perguntou quase gritando para o vazio da cidade. – Tem alguém vivo? Onde você está?

Nossa Barda ouve novamente aquela risada maléfica que agora vinha detrás de seus ombros. Imediatamente sentiu seu corpo todo se arrepiar e um calafrio subiu da ponta de seus pés, passando pela espinha até chegar a sua nuca.
Conhecemos Gabby e sabemos que ela não é do tipo que se assusta facilmente, porém, aquela presença lhe fez mal. Sentiu-se congelada. Seu corpo não respondia aos seus comandos.

E a risada tomou forma...

E a forma tornou-se sombra...

E da sombra saiu uma voz...

E ela era cheia de maldade...

Sombra – Olá Barda!!! – Disse numa voz com um tom cortês, porém ainda carregada do mais puro mal.

Isso atingiu Gabby como uma flecha, fazendo com que ela saísse de seu estado de choque. Foi se virando em direção a sombra, lentamente, quase como em câmera lenta. Cada passo parecia pesar uma tonelada. Cada segundo parecia uma hora.
Deparou-se com um homem que estava de costas para ela. 



Gabby rapidamente o inspecionou com o olhar. Reparou que ele era de estatura mediana. Esguio. Suas vestes eram do mais puro linho e era cravejada de pedras preciosas.

Ele exalava poder. Se não estivesse ali, no meio do nada, Gabby poderia jurar que se tratava de um Rei ou alguém realmente muito importante.

Gabby ficou tão distraída olhando para aquele homem que segurava seus sai em posição de luta.

Homem – Não se preocupe Barda. Não vou machucá-la e nem tenho intenção de lutar com você... Pelo menos não hoje – disse dando uma leve risada de escárnio.

Gabrielle – Quem é você?

Homem – Que rude Gabrielle... Não sabia que você era do tipo mal educada...

Gabrielle – Você sabe o que aconteceu aqui?

Homem – Mas é claro que sei. Você não? – Perguntou apenas para provocá-la. – Aposto que Xena já teria descoberto tudo...

Gabrielle – Quem é você? Como diz que me conhece? Como sabe sobre Xena? – Questionou Gabby sem parar para pensar em nada.

Homem – Nada disso importa agora. Eu apenas queria conhecer a famosa Rainha Amazona Gabrielle. A pessoa responsável pelo legado de Xena, o Flagelo dos deuses olímpicos.

Gabrielle já sem paciência correu até o homem afim de confrontá-lo de perto.
Pegou em seus ombros e o virou em sua direção...


O que veio a seguir mudaria para sempre a concepção que Gabrielle tem do mundo e até de si mesma.



quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CAPÍTULO III - UM OLHAR DO PARAÍSO

Capítulo III – Um Olhar do Paraíso

Xena ainda estava se acostumando a não estar mais viva. Dizer que ela estava se acostumando a morte seria muito duro para qualquer ser humano.
Ainda tratava de entender como as coisas funcionavam no reino dos Céus. Não estava se esforçando muito. Talvez por razões óbvias... Não era ali que ela gostaria de estar. Ao menos não sozinha...



Seus primeiros momentos foram difíceis. Sabia que havia feito o que era necessário para salvar as almas das pessoas que morreram por sua culpa. Estava em paz com sua decisão. Sabia em seu âmago que fizera o certo... Porém, mesmo sabendo disso... As coisas ainda não eram fáceis.
Seu coração estava em pedaços. Triste como nunca estivera antes.
Sentia que perdeu aquilo que mais lhe trazia alegria. Aquilo que completava sua vida e lhe dava sentido.



Sentia falta do sorriso fácil de Gabby... De acordar todos os dias ao seu lado... De guardar seu sono profundo... Sentia falta do toque, do abraço, do cheiro dos cabelos. Já não lhe era mais permitido ter isso...
Vira e mexe percebia que estava sorrindo sozinha... Lembrando-se dessas coisas. Lembrando-se da garota inocente que pediu ajuda em Potedia para se livrar de um casamento arranjado do qual não queria fazer parte. Lembrou-se da menina, que virou mulher, que virou mãe, que virou Rainha Amazona... E que virou a dona de seu coração.
Sua ausência doía. E pior ainda, sabia que Gabby estava sozinha. Era o que mais dificultava as coisas.



Porém... A “vida” deveria continuar para ambas.
Gabby não podia ver sua amada... Já que ela não estava mais entre os vivos... E a Xena não foi dada permissão para admirar sua amada de longe. As entidades superiores sabiam que se permitissem que Xena observasse sua pequena ela seria incapaz de seguir em frente, de ser quem deveria ser daqui em diante.
Ao chegar aos céus, Xena foi logo promovida a Arcanjo. Suas habilidades terrenas de luta, sua busca pelo bem supremo e seu amor por sua amada Barda foram os gatilhos para que isso acontecesse.



Ela passou a ser parte indispensável e um dos Arcanjos mais importantes para a manutenção da paz... Ou para equilíbrio, digamos assim. As partes do inferno não estavam muito felizes com as coisas e teimavam em viver em guerra com o céu.
Era uma batalha diária para manter as coisas bem. Depois da chegada de Xena, as coisas deram se acalmaram. As criaturas do inferno tinham receio de atacar sabendo das habilidades de sua nova inimiga. Ainda mais depois que correu o boato de que ela matou um dos demônios mais fortes da terra: Lord Yodoshi.



Apesar de toda a aparente paz que surgiu após sua chegada, Xena sentia que algo grande estava para acontecer. Podia não estar mais viva, mas suas habilidades em nada tinham mudado. Aquela mesma sensação que ela tinha momentos antes de alguém lhe atirar uma flecha ou então de quando a observavam a distância.
E pior ainda... Via a movimentação dos anjos e arcanjos e sabia que algo estava errado.



O fato é que Xena não era muito do tipo que senta e observa. Por ter suas diferenças com Miguel, com quem teve contendas em sua vida, procurou o Arcanjo Gabriel para saber o que estava acontecendo:

Xena – Gabriel, tem um momento?

Gabriel – Olá Xena... É... Estou meio ocupado no momento. Podemos falar mais tarde?

Xena – Não... Não podemos.

Gabriel – Ok... Acho que posso dispensar alguns minutos. No que posso ser útil?

Xena – Corte o papo furado e me diga logo o que está acontecendo.

Gabriel – Não há nada acontecendo Xena. Tudo está normal. Até tranquilo demais.

Xena – Gabriel, se teve algo que aprendi em minha vida é que nem sempre as coisas são o que parecem ser. Eu vejo praticamente tudo. Percebo a cara de assustados de vocês. Percebo os sussurros e os segredos. – Disse Xena surpreendendo Gabriel – Me conte de uma vez o que está acontecendo e me deixe ajudar.

Gabriel – Xena... Eu não tenho permissão para lhe contar...

Xena – Já basta! Se algo está acontecendo e, aparentemente estou envolvida, eu tenho o direito de saber o que é! – Gritou Xena chamando atenção de todos para sua conversa.

Gabriel – Ok. Irei lhe contar. Mas não aqui. Encontre-me no crepúsculo perto do Portal das Almas. – Disse Gabriel apressado em sair dali e fugir dos olhos curiosos.

Xena assentiu com a cabeça. Ao menos descobriu que realmente algo estava acontecendo e agora só podia esperar.
Diante de tanto segredo já começava a suspeitar que pudesse ser algo que envolvesse Eva e sua missão de ser a mãe e protetora da mensageira do Deus do Amor... Ou Gabrielle... Seu grande amor.



Qualquer uma das opções seria difícil. Mas era melhor saber do que ficar no escuro.
Xena esperava ansiosa, o sol já estava quase posto e nada de Gabriel aparecer.

Gabriel – Xena? – Chamou surgindo do nada procurando por Xena.

Xena – Olá Gabriel. Finalmente. Agora pode me contar o motivo de tanto segredo e discrição?

Gabriel – Peço que entenda Xena, que tomamos a decisão de não lhe contar porque, indiretamente, você está envolvida. Não queremos que você perca o foco de sua nova vida... – Gabriel parou sendo interrompido por Xena.

Xena – Gabriel, eu não me importo com nada disso. Minha vida ficou na terra... viva... na forma de uma pessoa. Somente ela que me importa. Agora diga logo o que está acontecendo!

Gabriel – Um grande mal irá assolar a terra. Algo que pode mudar totalmente a vida como a conhecemos. Tivemos informações de que este mal já está na terra. Duas aldeias já foram ceifadas. Nada sobreviveu... – Gabriel fez uma pausa dramática e viu a dor nos olhos de Xena. – Nem homem, nem mulher, nenhum animal... Até mesmo as florestas foram destruídas... Não dissemos nada porque ainda não sabíamos exatamente o que estava acontecendo e...



Xena – Quem? – Perguntou Xena interrompendo Gabriel.

Gabriel – A Barda... – Disse Gabriel com a voz embargada.

Xena deu um murro na parede a sua frente que teria esmigalhado todos os seus ossos da mão... Caso ainda tivesse algum.

Gabriel – Apenas sabemos que ela está disposta a parar esse grande mal. Ela está indo atrás dele para impedi-lo. Ela nem imagina onde está se metendo. Até o momento ela teve sorte. Ele ainda está fraco. Seu poder não chegou nem perto de toda sua potência.

Xena – Este grande mal... Qual é seu nome?


Gabriel – Ele é chamado de Apoliom – O Destruidor.