CAPÍTULO
II – UM NOVO DIA
Gabrielle
– Bom dia Xena... Eu te amo.
Na
manhã seguinte Gabby acordou menos triste. Agora ela tinha um objetivo. Ir até
o fim dessa história. Levantou-se rápido, apressada. Arrumou suas coisas,
colocou o que precisava na Argo e estava pronta para partir. Não tinha tempo a
perder já que agora ela ficou encarregada de manter as coisas em ordem no lugar
de Xena.
Gabrielle
– Lila? – Disse Gabby procurando Lila pela casa.
Lila
– Oi Gabby, estou fazendo nosso café da manhã.
Gabrielle
– Infelizmente tenho que partir agora, vim apenas para lhe ver e não posso
demorar... Acredito que tenha que lhe dizer adeus. - Gabrielle abraçou Lila num
abraço tão forte que chegou a doer. Lágrimas escorreram dos olhos de Gabby.
Gabrielle
– Gostaria que soubesse e que pudesse sentir o tamanho do amor que tenho por
você. Saiba que sempre estarei olhando por você. – Completou afagando as
bochechas de Lila.
Mal
sabia Lila que a intenção de Gabby era encontrar o fim dessa história e, com
sorte, o seu próprio. Só assim ela poderia voltar para os braços de sua alma
gêmea.
Gabrielle
planejara tudo muito bem. Sua mente perspicaz não deixou nada escapar. Era sua
chance. A chance de estar com Xena novamente... Mesmo que em outro plano.
Pela
primeira vez em sua vida pós Xena, ela estava ignorando o bem-supremo. Ela não
queria mais saber do bem que poderia fazer, das vidas que poderia salvar, de
sua irmã ou de Eva... Ela queria ser egoísta... Queria pensar em si mesma... E
somente nisso... O resto já não importava mais.
E
virou as costas, partindo... Sem dar tempo de reação. Deixando Lila sem
entender nada. Mal sabia que Gabby não estava apenas dando um “até logo”. Mal
sabia que aquela seria a última vez que veria sua irmã. Aquela com quem
cresceu. Com quem compartilhou os melhores momentos da juventude. Com quem
dividiu brigas e reconciliações. Quem lhe acalentava quando caia e ralava o
joelho. Sua irmãzinha partira para nunca mais voltar. Um simples adeus.
Gabby
subiu na Argo deixando Potedia para trás. Acreditava que não voltaria a ver sua
cidade natal. Uma última parada para olhar para trás e dizer o adeus preso em
sua garganta.
Gabrielle
– Aqui vivi o melhor e o pior da minha vida. Meu lar... Minha casa.
Ela
agora caminhava de volta a Delfos, em busca de pistas que pudessem lhe levar
para o mal que havia destruído aquela cidade e matado tantas pessoas.
Alguns
dias depois de deixar Potedia, Gabby chegou a Delfos. A imagem ainda lhe
torturava. Nenhum exército era capaz de tamanha destruição. Não acreditava que
homens poderiam fazer aquilo.
Desceu
da Argo e a pé percorreu tudo o que havia restado da cidade. Colocando em
prática tudo aquilo que Xena lhe ensinou. Observando os detalhes, as pistas
deixadas para trás. Um rastro era tudo que ela precisava. Não era só a cidade que
havia sido destruída. Ao olhar ao redor percebeu uma floresta que rodeava a
cidade. E algo havia feito a floresta sangrar. Ela também estava morta. Assim
como todos os animais e criaturas que nela habitavam. A vida fora toda sugada.
Gabby olhava estarrecida.
Sabia
que aquele caminho levava a cidade Castória. E não perdeu tempo. Montou em Argo
mais uma vez e partiu a caminho da cidade. Sabia que demoraria menos de um dia
para chegar lá.
Ao
anoitecer resolveu parar para que Argo descansasse... E ela também já estava
exausta. Montou seu acampamento, acendeu sua fogueira, fez sua cama e pôs-se a
dormir pedindo para que lhe permitissem ver mais uma vez a face de Xena.
Embalada
pelo céu cheio de estrelas, a barda pede a Morfeus, deus dos sonhos, que ela
sonhe com sua princesa guerreira.
Gabby
abre os olhos e se vê no meio de uma cidade. Crianças correndo, felizes...
Comerciantes vendendo suas frutas... Senhores cortejando jovens velhas senhoras
que lhes devolviam o cortejo com um sorriso envergonhado. E ali, bem ali, o
amor juvenil era visto por todos quando um garoto entregava um buquê de
narcisos a uma bela dama.
E
de repente tudo entra em chamas. E as pessoas correm desesperadas, agarrando-se
umas as outras. Gabby nada conseguia fazer. Se vê correndo em câmera lenta como
acontece com todos em seus sonhos mais malucos. E as crianças já não corriam
mais... Os senhores cortejavam com seus rostos grudados ao solo enquanto seu
último suspiro saia de suas narinas... E o amor juvenil foi visto morrendo
abraçado... Caindo juntos... Vivendo seus últimos instantes de amor enquanto a
tão jovem vida lhe era sugada.
E
Gabby foi desperta de seu sono, assustada. Sua pele parecia em chamas de tão
quente. Ela sabia que aquilo não era um simples sonho. Era uma visão de algo
que aconteceu. Sabia que tinha o dom da profecia e que aquilo nada mais era do
que a cruel verdade do que ela ainda encontraria pela frente.
Levantou
acampamento pela manhã e continuou sua corrida até Castória.
Ao
chegar à cidade, viu que estava em pé. Perfeita e linda como sempre foi. Ficou
sem entender nada e pensou estar louca ou que seu sonho apenas tinha base no
que tinha visto em Delfos. Afinal, tanta morte e sofrimento lhe causariam
pensamentos perturbadores mesmo.
Em
seus devaneios, resolveu andar dentro da cidade, para investigar se alguém
sabia de algo sobre o que tinha acontecido em Delfos. Se alguém lhe dava mais
alguma pista sobre o destino cruel daquela cidade.
Andou...
conversou com mercadores... falou com alguns aldeões... E ninguém tinha nada
para lhe falar. Ninguém sabia de nada. Apenas tinham recebido notícias do que
havia acontecido, porém, nada mais tinham a compartilhar.
Gabby
estava de mãos atadas, não sabia o que fazer.
Sentou-se
em uma estalagem e resolveu beber algo para relaxar. Aqueles que passavam
imaginavam que era louca, quando começou a conversar com alguém que não estava
ali e que ninguém via.
Gabrielle
– Xena sei que os mortos podem nos ouvir... Me ajude... Me dê algum sinal. Meu
sonho nada tem a ver com essa cidade. Ela está perfeita. Todos estão bem. Me
ajude a entender o que aconteceu àquelas pessoas em Delfos. – Ao terminar de
falar, uma velha senhora cega trombou com sua mesa, derrubando a bebida de
Gabby, que enfurecida gritou:
Gabrielle
– Você é cega por um acaso?
Senhora
– Sim querida, eu sou. Me desculpe por ter batido em sua mesa.
Gabrielle
de imediato sentiu-se mal por ter usado uma expressão errada e apressou-se em
pedir desculpas. A velha senhora a acalmou e perguntou o que uma linda moça
como aquela estava fazendo sozinha naquele lugar.
Gabrielle
– Estou apenas de passagem. Estou investigando um acontecimento na cidade de
Delfos, que foi destruída por algo. As pistas me trouxeram até Castória, mas
cheguei aqui e a cidade está bem. Procurei em toda a cidade por alguém que
pudesse me ajudar e não obtive sucesso.
A
senhora ficou muda... envergou as mãos... revirou os olhos... e começou a
gritar palavras desconexas... Caiu ao chão e Gabby foi socorrê-la. Ela se
debatia muito e gritava. Uma multidão cercou a cena e Gabby nada podia fazer
pela velha senhora.
Num
momento para outro, a senhora agarrou Gabby pelos braços e falou com uma voz
totalmente diferente da sua própria.
Senhora
– Em breve fogo descerá dos céus queimando tudo aquilo que é vivo... A morte
caminhará pelo vale colhendo as almas resistentes. Nada sobreviverá porque ele
quer assim. E esse será somente o começo... O mundo ainda está por ver o que
ele será capaz de fazer.
Dito
isso, ela apenas desmaiou... Pobre senhora...
Gabby
ficou estarrecida vendo tudo aquilo. Não conseguia assimilar tudo que acabara
de ouvir. A mulher estava apenas louca? Ou doente? Ou aquilo era uma profecia?
E num lampejo, lembrou-se de seu sonho da noite anterior. E foi fácil ligar os
pontos e entender que tudo tinha relação.
Castória
seria destruída como Delfos foi.
Correu
para procurar o ancião da cidade e ao encontrá-lo, explicou tudo o que havia
visto e testemunhado com seus próprios olhos. Contou sobre Delfos, sobre a morte
que viu... Contou sobre seu sonho e, mesmo que parecesse loucura, sabia que ele
aconteceria. Lhe disse ainda sobre a senhora que lhe disse aquelas palavras
momentos antes. Apenas confirmando tudo que viria a acontecer.
Implorou
ao ancião para que tirasse as pessoas da cidade. Para que levasse todos para
outro lugar...
O
ancião apenas riu... Disse que não podia evacuar toda a cidade apenas com base
em um sonho de uma pessoa estranha e numa velha louca que teve um ataque de
insanidade. Gabby insistiu, mas de nada adiantou.
Decidiu
que não poderia ficar parada, sabendo que algo aconteceria. Foi para o centro
da cidade e começou a gritar para que todos lhe ouvissem.
Gabrielle
– Algo acontecerá com essa cidade em breve. Por favor, me ouçam. Algo de muito
ruim irá acontecer com Castória. Assim como aconteceu com Delfos. A cidade será
destruída, nada sobreviverá. Vocês precisam sair imediatamente daqui...
Porém,
as pessoas apenas riam dela. Diziam ser mais uma louca que chegou a cidade e
tentava tirar alguns dinares das pessoas por histórias malucas. Disseram que
tudo não passava de balela e que era para ela ir procurar outros trouxas para
enganar.
Gabby
não se deu por vencida e tentou convencer a todos de que deveriam sair... Não
teve a menor chance.
Cansados
de tanto alvoroço, os próprios cidadãos a expulsaram da cidade. Lhe jogaram
portão a fora e disseram para não voltar, caso contrário, dariam um jeito para
que fosse presa.
Ela
não tinha mais o que fazer... Fez tudo que pôde. Derrotada, desistiu e saiu da
cidade para acampar próximo a ela.
Ao
cair da noite, com seu acampamento já montado, tomou um enorme susto ao ver
grandes luzes vindas da cidade. Correu para a beira da clareira em que estava,
que dava vista para a cidade...
Ela mal podia acreditar no
que seus olhos viam....Bom pessoal... Esse foi o capítulo II. Espero que estejam gostando.
Deixe seu comentário, suas criticas e sugestões... elas são sempre bem vindas.
Ares